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  • 19
    fev
    2009

    O Capitão Saiu Para o Almoço e os Marinheiros Tomaram Conta do Navio

    Charles Bukowski
    (L&PM Editores, 142 páginas)

    Por Luiz Chagas

    Entre 1991 e 1993 o escritor californiano Charles Bukowski (1920-1994) escreveu um diário que, de certa forma, serviria como seu testamento sócio-literário. O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio (L&PM Editores, 142 páginas) lançado em 1999 traz trechos desses textos em que o "velho safado", como era chamado, faz um acerto de contas consigo mesmo. A tônica pode ser exemplificada pelo final soberbo do livreto onde Bukowski resolve responder a um leitor que há muitos anos havia escrito a ele condenando-o por declarar que não gostava de Shakespeare, dando "mau exemplo" para a juventude. Depois de todo esse tempo a resposta foi "vai se (*), colega. E eu também não gosto de Tolstoi!". Puro Bukowski.

    Nascido em Andemach, Alemanha, filho de um soldado americano de origem polonesa e uma alemã legítima, Bukowski passou a maior parte de sua vida em Los Angeles, onde chegou aos 3 anos. Embora começasse a escrever nos anos 1940, só decidiu viver de literatura na virada dos anos 1970. Nesse meio tempo trabalhou para os Correios e perambulou pelos Estados Unidos - a vida "na estrada" deve ter colaborado para que o autor seja confundido com os escritores beat, com os quais não teve qualquer contato.
    O capitão reafirma sua paixão por Dostoievski, Descartes, Kierkegaard, Gorki e Céline. De moderno, apenas Hemingway e Miller. Enfim, um clássico que se atribuía a redescoberta de John Fante (1909-1983), de quem herdou o ambiente (Los Angeles), a narração através de um alter-ego (Bukowski - Chinaski, Fante - Bandini) e a estadia neste vale de lágrimas (74 anos). No livro o artista outrora considerado o terror das feministas descreve as delícias de se escrever em um computador Macintosh, viver um casamento estável com uma condição financeira confortável, ouvir a música de Mahler, observar os cavalinhos e os freqüentadores do jóquei e, à exemplo de Vinicius de Moraes, ver a vida de dentro de uma banheira - com hidromassagem. A edição é valorizada pelas ilustrações igualmente "clássicas" de Robert Crumb - que já havia ilustrado Bring me your love (1983) There`s no business (1984). O grosseirão se despediu com classe.


    Luiz Chagas traduziu "Mixto Quente", de Bukowski, e obras de escritores beats.

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