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  • Queime Depois de Ler

    Do site cinema com rapadura
    Por Diego Benevides

    Após encantar os críticos mundiais e uma parcela do público com "Onde os Fracos Não Têm Vez", os irmãos Coen voltam às telas com a comédia satírica "Queime Depois de Ler", estrelada por um elenco grandioso. Abusando positivamente do humor negro, os Coen trazem uma comédia agradável.

    Na trama, conhecemos Osbourne Cox (John Malkovich), um agente da CIA que é demitido por não passar mais confiança para seus superiores. Ao seu lado, a esposa Katie (Tilda Swinton) esconde um caso extraconjugal com Harry (George Clooney), que também é casado, mas nunca perde tempo em procurar por um rabo de saia para ter aventuras amorosas. Quando Cox começa a escrever suas memórias e as grava em um CD, o objeto vai parar no chão de uma academia e nas mãos de Linda (Frances McDormand) e Chad (Brad Pitt), dois estranhos que procuram se dar bem com o material. A vida de todos eles serve como base para a contação de uma história que tira sarro dos filmes de investigação e traz uma trama quase louca que quase chega a enfadar, porém sempre oferece mais ao espectador.

    A primeira observação é que os Coen têm um estilo próprio ao elaborar seus argumentos. O trabalho anterior dos cineastas, "Onde os Fracos Não Têm Vez", venceu prêmios em todo o mundo, sendo desde sempre o favorito ao Oscar. Enquanto muitos questionam esse favoritismo até hoje, outros declaram amor à inteligência dos irmãos, sempre irreverentes. Em "Queime Depois de Ler", mais toques particulares são inseridos na trama, trazendo à tona inúmeras discussões que devem servir como leitura por cada espectador. Enquanto alguns sairão sem saber muito bem o que aconteceu ali, outros já encontrarão relações a serem estabelecidas, metalinguagem e qualquer coisa que seja. Aqui, você assiste ao filme e, ao terminar, as sensações podem ser diversas, e particularmente isso é curioso, fazendo com que o longa seja um bom exemplar a ser conferido de forma despretensiosa.

    "Queime Depois de Ler" é, acima de tudo, um filme de personagens e atores. Apesar de uma história coerente e instigante, a reunião de grandes estrelas em uma obra onde todos têm um nível ótimo de paranóia, quase ao estilo almodovariano de construir suas mulheres histéricas, é o principal mote para criarmos identificação com o que está sendo visto. George Clooney faz um tipão desagradável, usa roupas bregas, trai a esposa e ainda cai em ciladas esquisitas. John Malkovich empresta sua experiência para viver um personagem decadente e quase louco, bem como Brad Pitt encarna um estilo de instrutor de academia beirando ao metrossexualismo, com um cabelo ridículo e trejeitos exagerados.

    Tilda Swinton talvez seja a esposa infiel mais crível que eu já pude ver no cinema. Sempre vestida no estilo executivo, sua personagem tenta viver seus problemas longe do mundo, confiando apenas no amante, que é o menos confiável dali. Frances McDormand está sempre insatisfeita com a aparência e busca fazer cirurgias plásticas para ficar mais bonita, mas nem assim dispensa passar horas na internet procurando um parceiro para satisfazer sua luxúria. Ainda temos o dono da academia apaixonado e brega, além do zelador que só sabe falar a mesma frase.

    Em um filme com personagens tão estranhos, o mais interessante é observar o quanto eles, de alguma forma, são solitários e procuram consolo em alguém ou alguma coisa para impulsionarem suas vidas. Entre eles, há uma trama básica de filmes de espionagem que mexe até com a embaixada russa nos Estados Unidos é instalada. A partir daí, o que começamos a perceber é como enganos e desencontros podem auxiliar as pessoas a chegarem a pontos extremos de suas vidas, e errar da forma mais banal possível.

    O que poderia ser apenas um dramalhão hollywoodiano ganha, felizmente, a adesão de muito humor negro, e a forma como os Coen realizam suas inserções estéticas é outro ponto positivo, desde a trilha sonora genérica, algumas vezes em momentos errados, aos planos misteriosos que criam suspense no público. Como diretores, eles deixam seus atores a vontade para atingir qualquer clichê e serem ridículos quando quiserem. Ali não há regras, muito menos a intenção de cativar o espectador. "Queime Depois de Ler" é quase um carpe diem: aproveite aquilo e só.

    Bem aceito ou não pelos espectadores, "Queime Depois de Ler" é inegavelmente uma comédia agradável, por mais que, às vezes, abuse da paciência do público com algumas brincadeiras irritantes. De qualquer forma, o longa é bem vindo em uma época do ano em que ainda há deficiência de boas histórias nos cinemas e que o grande destaque do momento seja o fantástico "REC". De vez em quando é sempre bom brincar, suar e depois tomar um banho. Quem sabe ler um livro e depois queimá-lo. Tão simples quanto esse texto. Agora você, leitor, vai sair desta página, queimar tudo que eu disse e pronto. Entendeu?

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