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    Pode esquecer George Jr., o colega rico e frouxo de Cris O’Donnell em Perfume de Mulher, e deixe ainda mais longe o travesti Rusty de Ninguém é Perfeito, que dava aulas de canto a um Robert De Niro sofrendo de paralisia. Em Capote Philip Seymour Hoffmann encarna o escritor-jornalista americano como talvez nem este mesmo fosse capaz.

    A voz chata, o jeito efeminado e nada convencional aos austeros anos cinqüenta e a vaidade, uma imensa e absurda vaidade, pontuam a figura que o diretor Bennet Miller apresenta ao público como sendo o essencial a se saber sobre aquele que na década seguinte foi aclamado como o maior escritor moderno dos Estados Unidos.
    O filme retrata o tormento vivido, e quem sabe buscado, por Truman Capote ao fazer as entrevistas e pesquisas que resultaram em À Sangue Frio, seu livro mais famoso. Almejando escrever o primeiro romance de não-ficção Capote não só inaugurou um novo gênero literário, e por tabela o Novo Jornalismo, mas também deu voz aos criminosos Richard Hickock e Perry Smith, que em 1959 assassinaram toda uma família na pacata cidade de Holcomb, interior do Kansas, ao retratar o fato também sob a ótica dos facínoras.
    Fica claro, apesar da sutiliza dos diálogos e gestos dos atores, que Truman sente-se ligado a Smith pela infância difícil e pelos abusos psicológicos sofridos ao longo da vida. Envolvido a ponto de, em determinado momento, confessar à amiga Harper Lee (autora de O Sol é para todos, contemporâneo à época do filme) que talvez estivesse apaixonado pelo seu objeto de estudo.
    Com paisagens frias e tristes o filme consolida seu tom contido, onde todos os desfechos ficam por conta da imaginação do espectador. E não se surpreenda se não puder imaginar muito, porque a reserva dos personagens é tão latente que nem mesmo divagar sobre suas personalidades é possível.
    Dizem alguns que uma certa relação homossexual entre os assassinos foi omitida, talvez sim. Alguns diálogos entre Smith, já no corredor da morte, e Capote seriam justificados se isso fosse verdade. E mais, os assassinatos, resultado de um assalto mal sucedido, seriam também fruto de uma acalorada discussão entre os amantes.
    Se assim foi, não houve nada de frio naqueles crimes, mas sim na sagacidade de Capote ao colocar sua frágil sanidade em jogo para relatá-los.
    Detalhe: Philip Seymour Hoffmann levou o Oscar, O Globo de Ouro e o BAFTA.

    Ana Paula, a Irmã.

    2 Comments:

    Lu said...

    Eu vi esse filme, muito massa!

    Anônimo said...

    Ele tá impressionante nesse papel. E parabéns pelas colunas.

    Abraço